Paliativos

A barriga intumesce, cresce numa bola dura. De bruços, já não consegue se deitar, a dor já é a sua companheira e o pior de tudo, o desânimo bateu à sua porta, ilusões caíram e se arrefeceram. Não basta um colo que acolhe, a dor judia e tira a razão. Essa dor de bolota redonda que seu abdômen virou. O peritônio não perdoa, nem sabia que existiam dois e estes retalhados em minhas entranhas se despedem de mim de forma cruel. Não há como recompor, estará em um lugar distante procurando alívio, como elefante velho fora deixada para trás e um lugar para se aquietar exige um esforço de ir até ele, o aconchego será substituído por novo ninho. Conhecerá uma outra capital. Ainda bem que há doce de leite, canjica salgada e a melhor culinária. Ainda bem que haverá um filho, um resíduo destas entranhas a postos e gentil. Ainda bem. O passado já não importa, rompeu-se em linhas finas, descosturou-se, esfiapou-se. A dor não foi maior que a junção, não foi, frágeis, frágeis ossos no caminho. Tudo posso naquele que me fortalece, tudo posso nessa ausência. E se fosse comigo? Teria vencido essas barreiras, ou iria ver o mar 🌊 ? A superfície não me atrai, e a profundidade não me traga. À deriva boio. À deriva escorrego e chego aos seus pés. Á deriva encolho e cresço. E esses dias passarão.
Kátia Torres Negrisoli

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