O que mais querem levar de mim? Levaram minhas roupas, pulseiras e brincos, imprimidas nelas a vida em suas horas, lembranças do vivido, do eterno, o que se vive jamais se extingue, mas levaram. Por quê? Levaram mais do que isso, a avidez da aprendizagem, o sorriso e a calmaria, quem me via correndo daqui prácolá, jamais saberia que isso não era pressa, era vida, essência em movimento, e não tristeza de não se ter tempo, pois havia tempo para inúmeras pequenas coisas e para as grandes que não sabiam serem tantas. Meu fardo não era pesado, leve e em meu ossos pequenos enchidos por poucas carnes bamboleava a vida. Até ontem ainda cheia e farta, mas os que me levaram as coisas, não tem jeito, levaram. Substituí, alonguei-as, não eram iguais, parecidas, ou mais, ou menos importantes, mas foram substituídas, algumas olho com saudade e gostaria de tê-las novamente, outras não, já não fazem diferença. Os últimos anos encheram meus ossos de muita carne, inchadas de remédios, alteradas, bo...