Dias de outubro


Difíceis dias 
em que a poesia escorre das mãos, 
dos olhos, 
das bocas rebentando ódio, 
insensatez.
Queria poder gritar:

_ Parem este trem, quero descer! 


Não dá! A locomotiva segue atroz 
em seu ritmo frenético, 
o ranger dos metais, pesados, 
austeros, sem utilidade. 
Ecos do nada, 
profusão de ideias, 
desencontros, desafetos, discórdia. 

_Parem! Parem! Quero descer!

Estamos ladeira abaixo 
e a subida nos espera, 
com degraus, com degraus. muitos. 
Não quero subir.

Não quero!


Estica a corda, estica, 
deixe-me pegar para saltar, 
pular fora do caos, 
da onda gigantesca, 
com polvos imensos 
resvalando pelos corpos pálidos.

O olhar gélido do mito, a frieza, 
a pele flácida, 
as bocas cheias, 
tão cheias e cheias 
que chegam a fartar os nervos.

Bocas cuspidoras, de navios sem mar.

Naufrágio lento, nas terras de Cabral.


*publicado anteriormente.
k.t.n. in respeite autoria

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