Prisão
O espelho, o espelho que me segue, complacente e mordaz. Está ali, inerte, parado, olhando-me de esgueira. Penetra-me
os recônditos, suga-me e devolve a metade provável do eu. Uma lição a não se esquecer. Dolorida. Vulgar. Costumeira.
E na volúpia das manhãs e noites, no claro e no escuro, volteio e olho nele os olhos que sugam. Penetro, avanço, destilo
trincos, preencho os vãos e vou-me nesta aventura a soterrar-me, mais uma vez, dentro dele. Espelho de face, de corpo,
de olhos, de boca voraz e impiedoso.
Tento voltar, tento voltar, inútil. Fechou-se o tempo. Fechou. Só o claro fora, da janela espraia, brilho tênue e salgado,
como as lágrimas vertidas. E ele canta para mim. Agora deu de cantar, em cada manhã uma canção. Em cada noite um
poema, estratagema. e me observa dormir, dono do meu sono, vislumbra-me no sonho. Abusado, sem receios, atormenta-
me na noite, seja fria, seja quente.
os recônditos, suga-me e devolve a metade provável do eu. Uma lição a não se esquecer. Dolorida. Vulgar. Costumeira.
E na volúpia das manhãs e noites, no claro e no escuro, volteio e olho nele os olhos que sugam. Penetro, avanço, destilo
trincos, preencho os vãos e vou-me nesta aventura a soterrar-me, mais uma vez, dentro dele. Espelho de face, de corpo,
de olhos, de boca voraz e impiedoso.
Tento voltar, tento voltar, inútil. Fechou-se o tempo. Fechou. Só o claro fora, da janela espraia, brilho tênue e salgado,
como as lágrimas vertidas. E ele canta para mim. Agora deu de cantar, em cada manhã uma canção. Em cada noite um
poema, estratagema. e me observa dormir, dono do meu sono, vislumbra-me no sonho. Abusado, sem receios, atormenta-
me na noite, seja fria, seja quente.
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