A noiva
Por um momento serei a noiva mais bela.
A eleita do teu coração.
Preciosa como pérola de água salgada
Prestimosa a cegar-te os olhos sem piedade.
A moça do vestido transparente em gaze
Sem ouro, sem prata, só brilhos pontilhados
No tecido farto de organza e tule
Com cabelos de sedosas mechas,
Ondeando teu torso esguio.
Nova noiva que se rende ao fato
Ladeada de servis encantos
O braço escorregando no espaldar da cadeira
Os pés cobertos por sapatilhas de seda
Entre o halo que penetra pela janela
Pela fresta da porta o hálito puro
Virginal em rendas e fitilhos esparsos
Dançam tuas mãos brancas, suaves e noturnas.
A gralha negra se avizinha e cega
O navio do ancoradouro parte
E o vestido em zangas se esfiapa
Mostrando o colo nu a tez fria
O sonho vestido de branco batalha
Em músicas e harpias, novenas de beatas
A eternidade se cala e espreita
Tanta beleza, ternura e feitiço
A donzela se cabe no espaldar,
O roupão aceso na poltrona ao lado
A intimidade das roupas debaixo
O sonho enevoado e robusto tenteando
Uma malemolência própria de momentos
As mãos brancas tecem nos fios dos cabelos
Melodiosas novelas, afetos e carinhos.
Dono de uma vontade em secreto,
A noiva descalça agora caminha
Entre leitos, sombras e flores
Desatina a desabotoar o peito
E se inclina ao perfume dos sândalos
Era uma vez... uma história
De um vestido de donzela,
Oh, moça sonhadora, cujo sonho se esvai
Como fumaça entre brumas
E a sombra tênue dos corpos
Não escapam aos traços e contornos.
Seu vestido fala mais, entre sedas e linhos brancos.
k.t.n. in tenteando romance
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