Tristeza

Imagem: René Magritte
Algumas coisas me assustam, de tal modo que fico estarrecida e amedrontada.
As pessoas em grupo remetem a uma melancolia sem precedentes, qual gado espalhado pelo pasto, pronto para ser recolhido ao final da noite.
A esperança se fia em calda de ponto de quebrar vendo os homens se regozijarem por tão pouca moeda.
O frio lateja no dedo machucado, a hora de escrever não obedece, pois o estômago dá voltas espiraladas, sufocadas.
O grupo, o grupo, o grupo! Que força tem estes senhores que vêm do nada?
Aliciam cúmplices e caminham felizes...
Deixando atrás de si restos de escuridão, migalhas de pensamentos e raios fugitivos nas colinas ...
A solidão, a casta solidão me alicia. Refugio-me só, fora do grupo, da manada pisante e procuro fechar os olhos, lamentar pouco e tento dormir.
Talvez no sono possa descobrir. Um sonho de paz, quiçá, na parede desenhado.
Um soutien mais ameno, que me deixe livre, uma lingerie desgastada pelo tempo, que cubra o meu corpo cansado destas bacanais de vivenciar o homem e seus grupos.
As manadas ruminantes, triunfantes ao final do dia.
É tanta dor, tanto desgosto, que fulmina os olhos vítreos da boneca sobre o criado-mudo.
Volto-me às pelúcias! Conversar com elas, entender-me com as cores destas peles sintéticas.
Algo assim, patético, mas essencial. Humanos! Humanos! Que bicho estranho somos!
Deixemos o candeeiro aceso, talvez dois, três.
Deixemos nossas mãos pendentes, os lábios silentes e secos à espera do nada.
Uma foice. Uma adaga. Um adágio popular.
Somos grandes e espalhamos miséria.
Somos pequenos e dormimos até a próxima primavera

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