Pólen
Onde deixarei meus baús, meus sonhos e fitilhos? Onde deixarei as
lágrimas escorridas e os gritos abafados de alegria? Digam-me! A mobília
pesa, os ombros cedem, preciso logo da partida, desta que deixam pelo
caminho os escaninhos de amor e dor. Olhem, são várias peças pesadas,
juntei muita tralha e pequenos valiosos tesouros! Os olhos engordaram, a
pressa aumentou o ajuntado. É uma judiaria não ter tempo de olhar um
por um destes guardados, com a calma e atenção que merecem. Sorver cada
minuto vivido, transcendendo alfazemas pelas roupas guardadas. Das
anáguas, das peças camisolas, dos babies dolls, e pequenas peças do
vestuário com algumas manchas que resistiram ao sabão em pó, com
pequenos pelos visíveis lá, ou acolá, talvez de algum animação de
estimação antigo, que sobreviveu ao tempo. Neste instante, os
passarinhos cantaram, todos sobre a árvore gigante e acolhedora.
Disseram trinados horríveis, estavam angustiados diante da dúvida do voo
derradeiro... e a passagem, e a travessia, e as peças todas? Ficaram,
ficaram, ... esperando Marias.
k.t.n. in pólen!
Comentários
Danusio Araujo
Grato.