Por Adriano Ars
Obs.: Ao editá-lo, perdi a formatação original. Adriano, desculpe-me!
Obrigada, querido poeta!
kátia,
de Adamantina*
metafísica doméstica
I
na tarde quente de um domingo
no quarto branco
de uma edícula
calças blusas e camisas
lençois toalhas edredons
e bermudas
e vestidos
que uma mãe
(em Adamantina)
passa a ferro
e sorri
sua mão
alonga e alisa
essas fibras
perfumosas
frisa vincos
tira dobras
(usa hábil
não a tábua
mas a velha
escrivaninha
onde pôs
um cobertor)
feito o aço
que ofega
e às vestes
vaporiza
ela sua
enquanto o usa
ela sofre
mas prossegue
peça a
peça
até a última
algum Sófocles
interno
por acaso
vaticina
quando a pilha
chega ao término:
“concluí
tua tragédia”?
não: tal Hades
na verdade
foi poesia
para ela
II
atos líricos
e épicos
de uma saga
amorosa
ante os vidros
da janela
que às vezes
ela olha
indo em busca
do quintal
onde florem
as ardósias
ou oloram
abacaxis
manjericão
capim-cidró
e brilham esferas
de acerolas
o quintal
onde três cordas
mostram imagens
que a elevam
III
roupas claras
num varal
violento
vento e sol
como um símbolo
da alma
agitada
pelo sopro
que a joga
para o alto
contra os liames
deste corpo
contra a morte
contra o nada
feito a lã
e feito o linho
no duelo
contra as cordas
como um símbolo
do espírito
em seu ritmo
vital
sob a carne
tão fugaz
onde arde
se debate
(fogo e impulso)
mas fracassa:
não alcança a
plenitude
dessa vida
que o transpassa
IV
claro ícone
do místico
neste fato
tão banal:
uma mãe
em Adamantina
passa a vida
vê o quintal
onde roupas
entre olores
esvoaçam
estivais
(nova pilha
a ser vencida
pela alma
em obra lírica)
até que um dia
nua e livre
flutue em clímax
afinal
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Desde Adamantina*
k.t.n.*