Difíceis dias, em que a poesia escorre das mãos, dos olhos, das bocas rebentando ódio, insensatez. Queria poder gritar: _ Parem este trem, quero descer! Não dá! A locomotiva segue atroz em seu ritmo frenético, o ranger dos metais, pesados, austeros, sem utilidade. Ecos do nada, profusão de ideias, desencontros, desafetos, discórdia. _Parem! Parem! Quero descer! Estamos ladeira abaixo e a subida nos espera, com degraus, com degraus. muitos. Não quero subir. Não quero! Estica a corda, estica, deixe-me pegar para saltar, pular fora do caos, da onda gigantesca, com polvos imensos resvalando pelos corpos pálidos. O olhar gélido do mito, a frieza, a pele flácida, as bocas cheias, tão cheias e cheias que chegam a fartar os nervos. Bocas cuspidoras, de navios sem mar. Naufrágio lento, nas terras de Cabral.